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Canhões não salvam vidas

Por Antônio Gomide

Canhões não salvam vidas

Por Antônio Gomide

08/2021

O presidente questionar decisões da Justiça e promover o debate público sobre questões importantes é democracia. Mas instigar o ódio contra ministros e ameaçar com tanques o STF, isso não é democracia. O presidente discordar da imprensa e apresentar seus argumentos e provas em contrário, isso é exercício da democracia. Mas achincalhar o trabalho profissional dos jornalistas, criar milícias digitais e calar a boca de quem não o elogia ou louva, isso não é democracia.

Estamos no limite da democracia no País. As ações do governo federal atentam o tempo todo contra conquistas dos trabalhadores e contra as bases da República. Nossa Constituição está sob ameaça de tanques. Um passo em falso e cairemos no abismo da ditadura e do terrorismo. Um piscar de olhos e seremos vítimas fatais do fanatismo e da falsa profecia da salvação da Pátria. Um flerte com o abismo e cairemos definitivamente na vala comum dos falsos moralistas de plantão.

O presidente eleito para combater a corrupção, promove rachadinhas em seu gabinete e de seus filhos, fecha os olhos às denúncias de desvios no governo e promove negociatas na Saúde, que mata em vez de curar os brasileiros. A defesa dos interesses nacionais, já vimos, se transforma em entrega de nosso petróleo, na destruição de nossas reservas ambientais e no desmonte de nossa economia, que mais do que nunca privilegia os mais ricos em detrimento dos mais pobres.

Não há coincidências na ação de Bolsonaro. Há método e objetivo. Ele tenta desmoralizar as nossas instituições para então destruí-las. Ele urde a desesperança na política, nos políticos, nas universidades, na ciência, no pensamento crítico da nossa gente, na liberdade, para poder impor a ditadura de sua vontade. Os canhões não salvam vidas; eles matam e nos escravizam. Em nome da falta defesa da ordem e da família, estamos vendo ruir as virtudes de um povo para que os vícios de comportamento sejam implantados com a perpetuação da prática do caos como arma e estratégia.

O caminho é o diálogo, é o trabalho conjunto, é a união de forças da sociedade. É sermos a barricada da resistência contra o arbítrio. Não sou partidário do radicalismo. Quem me conhece sabe por que luto e como luto hoje na Assembleia e como fiz em Anápolis, como prefeito. Erguemos conquistas, deixamos um legado de obras essenciais com o exemplo de nossa ação. Não dá pra aceitar que tudo que fizemos, que nossa vida seja derrotada por estes que, em nome de Deus, nos empurram para o inferno de seus interesses pessoais e eleitorais. O bom caminho já conhecemos. O mal é o que precisamos combater.

Confira nosso artigo no site do jornal O Popular.