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Ninho de Raízes

Por Antônio Gomide

Ninho de Raízes

Por Antônio Gomide

06/2021

A força de Goiás está em seu povo. Descuidar de nossas raízes é abandonar nossa história. O cerne da cultura goiana está diluída em povos indígenas, comunidades quilombolas, povos de terreiro, agricultores familiares, extrativistas, ribeirinhos, catadores de frutos, ciganos e muitos outros. Esse conjunto compõe a pluralidade do patrimônio do nosso território e resguarda a biodiversidade de Goiás. Sem o legado dessas populações, seríamos um povo desnudo de identidade e natureza.

Em 2019, nós propusemos o Projeto de Lei da Política Estadual de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Goiás. A matéria teve aprovação este ano após intenso debate na Assembleia Legislativa e, no fim de maio, tornou-se Lei, ao ser sancionada. Mas a existência da Lei não garante o reconhecimento e exercício pleno dos direitos dessas populações. É necessária a participação de todas as esferas sociais, como rege qualquer política transformadora.

Goiás reúne cerca de 8,5 mil indígenas e somente 300 deles vivem em Terras Indígenas. Temos cerca de 82 comunidades quilombolas. Uma delas, a comunidade Kalunga é o maior quilombo em extensão territorial do Brasil. Cerca de 4 mil kalungas vivem em 253 hectares na Chapada dos Veadeiros abrangendo os municípios de Cavalcante, Teresina de Goiás e Monte Alegre de Goiás. Não por coincidência, uma das regiões com natureza mais bem preservada do país.

A falta de sensibilidade pelas comunidades tradicionais agravou as dificuldades enfrentadas pelos Kalungas durante a pandemia, por exemplo. Por um lado, a interrupção do turismo deixou-os reféns do auxílio emergencial. O segmento representa 70% da economia dos municípios da Chapada dos Veadeiros. A logística para recebimento do benefício é incompatível com a falta de acesso às tecnologias de telecomunicações em regiões longínquas desses povoados.

Por outro lado, a volta do turismo na região no início deste ano trouxe o medo da Covid-19. As unidades de saúde destes territórios são precárias e distantes dos povoados. A chapada recebeu milhares de turistas no início do ano, mas os quilombolas só começaram a ser vacinados em março. Eles foram excluídos na primeira fase dos grupos prioritários de vacinação do Plano Nacional de Imunização.

É preciso reconhecer que a existência dessas populações está ameaçada pelo distanciamento de políticas públicas e efetivação de seus direitos. Esta Lei contribui para o cuidado das populações tradicionais do Estado, ninho das culturas goianas que resguarda nossa natureza.

Confira nosso artigo no site do jornal O Popular.