O avanço do desmatamento do Cerrado foi tema de debate em audiência pública promovida pelo deputado estadual Antônio Gomide (PT) na Assembleia Legislativa de Goiás. O evento foi organizado pela Frente Parlamentar em Defesa do Bioma Cerrado com apresentação do relatório do MapBiomas, em busca de políticas públicas para preservação do meio ambiente.
A audiência pública contou com a presença do superintendente do Ibama, Nelson Galvão, o procurador do Ministério Público Federal, Wilson Rocha, a coordenadora do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG), Elaine Barbosa, a deputada estadual Bia de Lima (PT), o deputado estadual Mauro Rubem (PT), o superintendente de fiscalização de Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Semad), Marcelo Sales e entidades ligadas à luta pelo meio ambiente.
O deputado estadual Antônio Gomide, que preside a Frente Parlamentar em Defesa do Bioma Cerrado, destacou que os números apresentados pelo relatório MapBiomas, com georreferenciamento do Lapig, reforçam a necessidade de políticas públicas sérias para a defesa do Cerrado. Sobretudo diante do avanço significativo da devastação ocorrida em Goiás no ano de 2023, com aumento de 125%.
“Precisamos alertar e informar a sociedade [sobre o avanço do desmatamento em Goiás]. A audiência pública é para dizer que, mesmo com ações retroativas em relação à legislação ambiental, queremos mostrar à sociedade a importância da preservação e criar espaços para a gente suscitar o debate”, aponta Antônio Gomide.
Relatório do MapBiomas
A professora Elaine Borges apresentou o relatório do MapBiomas, através de georreferenciamento do Lapig em Goiás, sobre o desmatamento no país. Os dados mostram que houve diminuição de 11,6% em área desmatada no Brasil, em relação ao ano anterior. No entanto, pela primeira vez o Cerrado ultrapassou a Amazônia, com 1,11 milhão de hectares desmatados, um aumento de 67,7%.
“O Cerrado está indo embora. Quando analisamos os desmatamento, conseguimos ver que 97% dos desmatamentos tem como vetor de pressão a agropecuária no país. Então, o agronegócio tem pressão sobre o desmatamento, sobretudo no Cerrado”, explica. Ela ressalta que a Bacia Araguaia Tocantins foi a mais desmatada em 2023, com 407 mil hectares. Um aumento de 48,5%.
O estudo mostra que houve 225.204 hectares de área desmatada somente no Cerrado goiano em 2023. Com o destaque para os municípios de Niquelândia, Caiapônia, São João d’Aliança, Crixás e Minaçu, que seguem sendo os municípios com maior volume de devastação entre 2019 e 2023.
Comentários
O procurador federal, Wilson Rocha, ressaltou que é preciso discutir leis mais protetivas para o Cerrado, não somente em Goiás, mas no Brasil como um todo. “A Assembleia Legislativa precisa conversar com a sociedade, precisa conversar com a academia, de modo que se crie um pacto legal para a proteção do Cerrado. A gente precisa repensar a forma de existir com o Cerrado, de pensar formas diferentes de contenção desse bioma e da ocupação humana no cerrado. O cerrado não pode ser moeda de troca”, disse.
O superintendente de fiscalização da Semad, Marcelo Sales, salientou que o mais importante é ressaltar que o combate ao desmatamento não cabe somente ao Estado, ao órgão fiscalizador, mas por uma criação de uma política de valorização do Cerrado em pé. “Não basta a gente ficar fiscalizando, se culturalmente está internalizado a valorização de uma terra ‘limpa’ do que um local conservado”, explica.